
Casos como o resgate de mais de 60 cães da raça Pastor de Shetland, ocorrido em junho de 2025 em um canil clandestino no Brasil, reforçam a importância de orientar os responsáveis sobre a procedência dos animais. Apesar da aparência saudável em anúncios e redes sociais, muitos desses locais mantêm os animais em condições insalubres, com reprodução descontrolada e ausência total de cuidados veterinários. Episódios como esse evidenciam que escolher um criador responsável não é somente uma questão de compra consciente e sim um ato de proteção ao bem-estar animal.
O papel do médico-veterinário na orientação dos responsáveis (tutores)
No consultório, é comum ouvir histórias emocionadas sobre a chegada de um novo filhote à família. Mas por trás de cada focinho curioso ou miado tímido, existe uma história anterior e ela começa no criador. Como médicos-veterinários ou estudantes da área, temos a responsabilidade de orientar os responsáveis (tutores) que desejam adquirir um animal de um canil ou gatil, contribuindo para escolhas mais conscientes, éticas e seguras.
Este conteúdo não tem a intenção de julgar, mas de informar. Afinal, quando falamos em bem-estar animal, prevenção começa muito antes da primeira consulta.
Por que é tão importante investigar o criador?
A origem de um filhote influencia diretamente sua saúde física, mental e emocional. Um ambiente inadequado ou práticas reprodutivas irresponsáveis podem resultar em doenças hereditárias, problemas comportamentais e frustrações para o responsável (tutor), além dos desafios clínicos para o veterinário.
Orientar sobre a escolha responsável do criador é um passo essencial da saúde preventiva.
O que o responsável precisa saber antes de adquirir um animal de criador?
1. Registro legal e transparência
- Verifique se o canil/gatil é registrado em clubes de criadores reconhecidos (como CBKC, FIFe, CFA, entre outros).
- O criador deve emitir um pedigree oficial (não confundir com "certificado de vacinação" ou “contrato particular”).
- Solicitar a nota fiscal ou recibo da venda, formalizando a relação de compra.
2. Condições sanitárias e ambientais
- O responsável deve, sempre que possível, visitar o local: O ambiente é limpo? Os animais são sociáveis e bem tratados?
- Há separação entre adultos e filhotes? Existe espaço para enriquecimento ambiental?
- Criadores responsáveis não escondem seus espaços nem evitam perguntas.
3. Saúde reprodutiva dos pais
- É essencial perguntar: os pais são testados geneticamente para doenças hereditárias da raça? Existem laudos?
- Cadela ou gata não deve ser usada continuamente em reprodução. Idealmente, deve haver intervalo entre ninhadas e número limitado de gestações por fêmea.
4. Socialização e primeiros cuidados
- O criador realiza estimulação precoce dos filhotes? Já iniciaram a socialização com pessoas, sons e outros estímulos?
- Os filhotes devem sair do criador somente após os 60 dias de vida, com pelo menos uma ou duas doses de vacina polivalente e verificação veterinária.
5. Acompanhamento pós-venda
- Criadores responsáveis acompanham o responsável (tutor) nos primeiros dias ou semanas, auxiliando na adaptação.
- Um bom criador se mantém acessível e orienta sobre transição alimentar, rotina e manejo.
6. Compromisso com o bem-estar animal
- Alguns criadores incluem cláusulas de devolução no contrato, caso o responsável não possa mais manter o animal.
- A criação deve priorizar características saudáveis e equilibradas, e não apenas padrões estéticos.
Como abordar isso com o responsável (tutor)?
Fale com empatia. Muitos responsáveis não sabem o que perguntar ou sequer imaginam que exista diferença entre um criador ético e um criador comercial. Incentive-os a pesquisar antes da compra, procurar referências, conversar com outros responsáveis, e sempre pensar no bem-estar do animal a longo prazo.
Tenha sempre um checklist prático sobre a aquisição segura de animais provenientes de canil/gatil para compartilhar no consultório ou redes sociais.
Quando o animal já foi adquirido?
Mesmo que o responsável (tutor) já tenha feito a compra, é papel do veterinário:
- Realizar uma primeira avaliação detalhada (clínica, comportamental e nutricional).
- Pedir o máximo de informações sobre o criador e os pais.
- Investigar sinais precoces de doenças genéticas comuns na raça.
- Promover um plano de cuidados preventivos personalizado.
Adquirir um filhote de criador é uma decisão que vai além do amor à primeira vista. Como profissionais da Medicina Veterinária, temos o dever de informar com clareza e acolhimento, sem julgamentos, para que cada responsável (tutor) possa fazer escolhas mais seguras, para si, para o animal e para a sociedade.
Afinal, um bom começo é o primeiro passo para uma vida longa e saudável ao lado do novo companheiro.

Para facilitar ainda mais essa escolha consciente, preparamos um checklist prático com todos os pontos essenciais que o responsável (tutor) deve observar antes de adquirir um pet de criador.
Esse material está disponível gratuitamente no aplicativo VetGuide, dentro do Menu → Cão ou Gato → categorias → “Orientações para Tutores” → Checklist para Escolher um Criador Responsável.
Com ele, o responsável poderá consultar rapidamente as principais recomendações e tomar decisões mais seguras e alinhadas ao bem-estar animal. Compartilhe com seus clientes e ajude a construir uma nova geração de responsáveis mais informados e comprometidos.

Ótima matéria, bom ter atenção nisso mesmo!
ResponderExcluirAmeii a explicação tudo bem detalhado
ResponderExcluir