Gata regurgitando bolas de pelo com frequência? Pode ser um ácaro


Entenda como o Lynxacarus radovskyi pode estar por trás de lambedura excessiva e alterações na pelagem de gatos indoor, nesse estudo clínico de caso.

Apresentação do caso:

Uma gata de 4 anos, castrada, de pelagem longa e mariscada, começou a apresentar um comportamento que chamou a atenção do responsável: regurgitação frequente de bolas de pelo e aumento no tempo de autolimpeza, especialmente nas patas e flancos. Apesar de viver em apartamento telado, sem acesso à rua ou contato com outros animais, o desconforto se tornou evidente.


Histórico clínico:

O animal é exclusivamente domiciliado, sem acesso ao ambiente externo e sem o uso de ectoparasiticidas. A alimentação é comercial, seca e apresenta apetite e ingestão de água normal, além da eliminação fisiológica adequada. A vacinação e a vermifugação estão atualizadas.

Exame físico:

Durante o exame clínico, a paciente se apresentou ativa e normohidratada, com peso estável (5 kg). A inspeção da pelagem longa e espessa, no entanto, revelou algo curioso: pequenos pontos escuros finos, distribuídos de forma irregular sobre os fios, como se a pelagem clara tivesse sido salpicada com cinzas. Não havia feridas, crostas ou áreas de alopecia. Também não se observaram pulgas ou sinais de prurido evidente.

Possíveis causas para o aumento de bolas de pelo em gatos

A avaliação clínica levantou as seguintes hipóteses para o caso:

1. Lynxacarus radovskyi – o ácaro do pelo felino
Esse ácaro microscópico se fixa diretamente nos fios de pelo, e não na pele. Ele costuma causar hiperpigmentação dos pelos e provocar desconforto cutâneo, o que leva à autolambedura intensa. Esse comportamento favorece a formação dos famosos tricobezoares, ou bolas de pelo.

2. Tricobezoares secundários a autolambedura crônica
A presença frequente de bolas de pelo regurgitadas é um sinal indireto de ingestão excessiva de pelos, que por sua vez indica desconforto cutâneo.

3. Dermatofitose (menos provável neste caso)
Apesar de poder causar alterações semelhantes nos pelos, a ausência de lesões cutâneas e a não fluorescência sob lâmpada de Wood reduziram a chance dessa hipótese.

Exames realizados

  • Microscopia de fios (tricograma): presença de estruturas compatíveis com ácaros aderidos
  • Fita adesiva + microscopia: confirmou Lynxacarus radovskyi
  • Raspado cutâneo: negativo
  • Teste do papel branco úmido: negativo para fezes de pulga
  • Lâmpada de Wood: negativa para dermatófitos fluorescentes

Tratamento indicado para o ácaro em gatos

O tratamento instituído incluiu:

  • Aplicação de ectoparasiticida tópico de largo espectro (selamectina ou fluralaner)
  • Suplementação com ômega 3 e 6 por 60 dias
  • Escovação diária da pelagem
  • Início de ração com fibras para controle de bolas de pelo
  • Reavaliação clínica em 3 semanas

O que aprendemos com esse caso?

  • Gatos podem esconder desconfortos cutâneos por muito tempo, mesmo vivendo dentro de casa. O aumento na autolimpeza e as alterações discretas na coloração dos pelos foram as pistas para o diagnóstico.

  • O Lynxacarus radovskyi é um ácaro pouco lembrado, mas que deve estar no radar clínico de qualquer veterinário que atenda felinos, especialmente de pelagem longa. No caso apresentado, o aumento da autolimpeza e as alterações discretas na coloração dos pelos foram pistas importantes para o diagnóstico do ácaro.

  • O Lynxacarus radovskyi é um ácaro pouco lembrado, mas que deve estar no radar clínico de qualquer veterinário que atenda felinos, especialmente de pelagem longa.

Atenção aos sinais silenciosos nos gatos

O uso preventivo de ectoparasiticidas em gatos deve ser mantido mesmo em animais sem acesso à rua. Além da estética, o cuidado com a pelagem pode ser o primeiro sinal de alerta para doenças silenciosas.

Dica para os responsáveis: Veterinário ! Alerte os responsáveis (tutores) sobre o aumento na frequência de regurgitação das bolas de pelo; para esses casos, o correto é sempre levar no veterinário para uma avaliação.


Responsável técnico: Dra. Simone Freitas CRMV-BA 1771



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