1. Como e quando surgiu seu interesse pela fisioterapia veterinária e pela medicina integrativa?
Meu interesse surgiu de forma prática e inesperada, em 2017, enquanto trabalhava como plantonista em uma clínica veterinária. Na época, a colega responsável pelo setor de fisioterapia precisou se mudar de estado, e eu assumi temporariamente os pacientes em reabilitação para que o tratamento não fosse interrompido. Os resultados positivos que observei me despertaram para o grande potencial da fisioterapia veterinária. Logo depois, iniciei minha especialização na área pelo Instituto Brasileiro de Reabilitação Animal (IBRAVET), em São Paulo.
A medicina integrativa entrou naturalmente na minha trajetória clínica, ao perceber que terapias complementares, quando bem embasadas, podiam oferecer benefícios significativos. Especialmente no controle da dor, na recuperação de pacientes ortopédicos e neurológicos, e na promoção da qualidade de vida de pacientes geriátricos ou com doenças crônicas.
2. O que motivou sua transição para essa especialização dentro da medicina veterinária?
Minha maior motivação foi oferecer uma abordagem terapêutica mais abrangente e funcional, que olhasse para o paciente como um todo – levando em consideração suas comorbidades e particularidades clínicas. Busquei alternativas terapêuticas eficazes e menos invasivas, que fossem mais humanizadas.
Naquela época, poucos profissionais atuavam com reabilitação veterinária, o que gerou grande demanda por parte dos tutores. Percebi que a fisioterapia e as terapias integrativas proporcionavam uma melhora significativa na qualidade de vida dos animais, inclusive em casos crônicos ou em que a eutanásia era considerada. Além dos benefícios clínicos, a especialização também trouxe retorno financeiro consistente e contribuiu para a valorização da minha carreira.
3. Quais foram os maiores desafios e aprendizados no início da sua atuação nessa área?
O maior desafio foi a escassez de formação especializada na minha cidade, Salvador. Em 2009, precisei ir até São Paulo para cursar a pós-graduação em Fisioterapia Veterinária no IBRAVET, já que não havia opções locais.
Apesar das dificuldades, essa experiência foi desafiadora. Aprendi a importância de uma abordagem individualizada e centrada no paciente, utilizando terapias eficazes que não causam sobrecarga fisiológica ou efeitos colaterais associados a tratamentos convencionais. Isso ampliou meu entendimento sobre o cuidado multidisciplinar.
4. Como foi sua formação e atualização profissional na área?
Sou formada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 2005. Em 2009, iniciei minha formação em Fisioterapia Veterinária pelo IBRAVET, e desde então venho investindo continuamente em especializações e cursos para ampliar meu repertório terapêutico.
Aprofundei-me em áreas como biomecânica, neurologia, Kinesio Taping, terapias manuais e físicas (eletroterapia, fototerapia, ultrassom terapia, manipulação miofascial), e também em técnicas energéticas como Reiki e ThetaHealing. Posteriormente, especializei-me em Biorressonância Quântica, TUI-NA, homeopatia, dietoterapia, ozonioterapia e terapia com Viscum album. Em 2020, concluí a pós-graduação em Acupuntura Veterinária pelo Instituto Jacqueline Pecker. Toda essa formação multidisciplinar enriqueceu minha atuação clínica e ampliou minhas ferramentas de trabalho.
5. Quais terapias integrativas fazem parte da sua rotina clínica hoje?
Atualmente, integro à prática clínica técnicas como fisioterapia, acupuntura, TUI-NA, Kinesio Taping, ozonioterapia, cromoterapia, Biorressonância Quântica, homeopatia, florais vibracionais, medicina canabinoide, uso de nutracêuticos e terapia com Viscum album.
6. Como a medicina integrativa transforma a vida dos pacientes veterinários, na sua visão?
A medicina integrativa transforma profundamente a abordagem da saúde animal, especialmente em casos crônicos, degenerativos ou neurológicos. Ela potencializa a analgesia, acelera a reabilitação, reduz a necessidade de medicamentos sintéticos e proporciona mais conforto e bem-estar ao paciente.
Outro aspecto essencial é a inclusão do tutor no processo terapêutico. A medicina integrativa reconhece a importância da família multiespécie, considerando que o estado emocional do tutor influencia diretamente no campo energético do animal. Quando o tutor participa ativamente, os vínculos se fortalecem, os tratamentos são mais eficazes e a qualidade de vida do pet melhora de forma significativa.
7. Quais são os principais mitos sobre a medicina integrativa para pets?
Um dos mitos mais comuns é acreditar que essas terapias não têm base científica ou são somente “alternativas”. Na realidade, muitas possuem respaldo técnico e evidência clínica.
Outro equívoco é pensar que elas substituem os tratamentos convencionais. Na verdade, seu maior valor está na integração com a medicina tradicional, atuando de forma complementar para melhores resultados.
8. Como você vê o reconhecimento dessas práticas por tutores e veterinários?
Nos últimos anos, tenho observado um aumento significativo na aceitação dessas práticas, principalmente entre os tutores, que estão mais informados e abertos a abordagens menos invasivas. Muitos já tiveram experiências com terapias integrativas na medicina humana, facilitando a compreensão de seus benefícios também na veterinária.
Entre os profissionais, ainda existe certa resistência, geralmente por falta de conhecimento sobre os fundamentos científicos dessas terapias. No entanto, essa visão está mudando, graças ao crescente número de estudos e à atuação ética e qualificada de profissionais especializados.
9. Quais tendências você acredita que moldarão o futuro da fisioterapia e medicina integrativa veterinária?
A principal tendência é a consolidação da abordagem integrativa como parte essencial da clínica médica veterinária. A reabilitação e as terapias integrativas deixarão de ser complementares e passarão a compor protocolos terapêuticos estruturados e personalizados.
Um exemplo claro dessa tendência é a personalização de protocolos vacinais, cada vez mais adaptados ao perfil imunológico, estilo de vida e comorbidades de cada animal, rompendo com o modelo padronizado de vacinação anual indiscriminada. Na medicina integrativa, essa prática é associada a uma visão mais sistêmica e preventiva da saúde, reduzindo estímulos excessivos ao organismo, muitas vezes já fragilizados.
Na reabilitação, o uso de terapias físicas, medicina canabinoide e acupuntura continuará crescendo, com excelentes resultados na dor crônica, distúrbios comportamentais e doenças dermatológicas, neurológicas e inflamatórias.
10. Que conselho você daria para quem deseja atuar nessa área?
Meu conselho é investir em uma formação sólida e manter o compromisso com o aprendizado contínuo. É essencial compreender as bases científicas das terapias integrativas, atuar com ética e respeitar os limites de cada abordagem.
A prática integrativa exige conhecimento técnico, sensibilidade, escuta ativa e uma visão ampla do paciente. Apesar dos desafios, os resultados são extremamente recompensadores — tanto para os animais quanto para os profissionais envolvidos.