Nos últimos dois meses, a linha que separava a Dra. profissional do tutor foi borrada por uma experiência intensa e profundamente pessoal: acompanhar a jornada final dos meus idosos, Misa (Labrador, 16 anos) e Raji (Rottweiler, 15 anos), em cuidados paliativos.
Eles estavam acamados, mas conscientes, mantendo uma chama de vida que extrapolava qualquer prognóstico. Organizei um protocolo de carinho em casa: banhos de leito, massagens, ventilação adequada... E quanto mais eu cuidava, mais me questionava sobre a validade da minha conduta. Como profissional, eu sei que prolongar o sofrimento não tem justificativa.
Mas há algo que transcende exames e conhecimento técnico. Há o laço invisível.
Um simples olhar, um latido fraco ou uma cauda que abana desconstroem todo o nosso discurso técnico. Essa conexão nos faz decidir enfrentar a despedida de forma natural, vivenciando o processo até o fim. Entre saber que vai partir e vivenciar a partida, existe um turbilhão de emoções incontroláveis.
Esta vivência como tutora me fez reavaliar como agimos com nossos clientes. Empatia é sentir com o outro; Compaixão é sentir e agir para abrandar essa dor. E nesses momentos, nossa postura profissional precisa ser ainda mais sensível e estratégica.
Como podemos fazer diferente para que nossa postura profissional seja mais cautelosa e acolhedora nesses momentos?
1. Comunicação Integrativa: Não basta expor os fatos; precisamos construir o protocolo de cuidados junto ao tutor, garantindo que o plano de ação (nutricional, dor, conforto) esteja alinhado com a Medicina Integrativa e o desejo da família. Isso gera segurança e alinhamento entre a equipe e a família.
2. Preparação Psicológica: O sofrimento não é só do animal. Cuidados paliativos é também suporte emocional ao tutor. Precisamos nos organizar psicologicamente para sermos o pilar de clareza e acolhimento.
3. Suporte Multidisciplinar: Acredito veementemente que clínicas e hospitais veterinários precisam de um time com psicólogos para fornecer um suporte mais completo. Isso assegura que esses cenários dolorosos não atravessem a linha tênue do sofrimento insuportável.
A vulnerabilidade de ser tutor me ensinou que o nosso trabalho vai muito além de tratar a dor física. É garantir que o adeus seja digno e que o luto não seja destrutivo. Que possamos, juntos, humanizar ainda mais a medicina veterinária.

Veterinários, como esta experiência ressoa em vocês? Qual é a sua principal ação de compaixão em momentos de cuidados paliativos? Compartilhe sua perspectiva nos comentários.

Parabéns pelo pôster!
ResponderExcluirQuando você demonstra que entende a dor, o medo e a ansiedade de quem está passando pelo problema, a comunicação deixa de ser apenas técnica e se torna humana. Isso cria conexão, passa confiança e faz a pessoa sentir que não está sozinha naquele momento difícil. Além disso, mostrar empatia ajuda a acalmar, acolher e orientar melhor, porque o tutor percebe que você realmente se importa, não apenas com o animal, mas com o coração de quem o ama. É isso que transforma um simples atendimento em apoio, conforto e cuidado verdadeiro.