Fonte: Farrell et al., 2025. Frontiers in Veterinary Science.
DOI: 10.3389/fvets.2025.1581490
Indicação: Controle da dor em cães com osteoartrite.
O bedinvetmab, comercializado como Librela™, tem sido amplamente utilizado no tratamento da dor crônica associada à osteoartrite canina. Entretanto, novos estudos levantam preocupações importantes sobre eventos musculoesqueléticos adversos relacionados ao seu uso.
Como o Bedinvetmab (Librela™) atua no organismo dos cães
- Trata-se de um anticorpo monoclonal canino (mAb) que inibe seletivamente o fator de crescimento nervoso (NGF).
- O NGF está diretamente envolvido na modulação da dor e na manutenção da integridade articular.
- A inibição do NGF proporciona alívio da dor, mas pode comprometer os processos de regeneração óssea e cartilaginosa, aumentando o risco de lesões articulares.
Principais Achados do Estudo
1. Alta Frequência de Eventos Adversos Musculoesqueléticos (MSAEs)
- Entre 4.289 relatos de eventos musculoesqueléticos adversos, 87.5% estavam relacionados ao Librela.
- Lesões como rupturas ligamentares, fraturas, poliartrite, neoplasias musculoesqueléticas e artrite séptica foram ~9 vezes mais frequentes com Librela do que com AINEs comparadores (Rimadyl, Metacam, Previcox, etc).
2. Destruição Acelerada da Articulação (semelhante ao RPOA humano)
- Painel de especialistas (incluindo cirurgiões ortopédicos veterinários e radiologistas) avaliou 19 casos suspeitos.
- 68% dos casos foram classificados como “muito suspeitos” de associação causal entre o uso de Librela e destruição articular acelerada.
- Observou-se luxações, fraturas patológicas e osteólise subcondral, mesmo em articulações que previamente não apresentavam alterações clínicas.
3. Erros de Tradução nas Notificações
- Em mais de 50% dos casos, os relatos enviados pela empresa (MAH - Zoetis) divergiam dos relatos feitos por veterinários.
- Reações graves foram rotuladas como “não graves”.
- Algumas lesões foram mal classificadas (ex: luxação como “dor articular”).
Implicações Clínicas
- O NGF é essencial para reparo articular. Sua inibição pode levar a degeneração acelerada.
- Fraturas espontâneas e luxações foram observadas sem histórico de trauma.
- A erosão da cartilagem observada pode ser irreversível.
Recomendações Clínicas sobre o Uso do Librela™ em Cães
Indicado apenas em casos de osteoartrite comprovada, com histórico e exames adequados.
Evitar o uso em:
- Cães jovens
- Animais com articulações normais
- Cães com histórico de lesões ortopédicas não tratadas
Realizar:
- Monitoramento clínico e radiográfico a cada 6 meses
- Avaliação criteriosa antes de associar o Librela™ a AINEs
Esclarecer aos tutores:
- O mecanismo de ação do medicamento
- Os potenciais riscos musculoesqueléticos
- A necessidade de acompanhamento veterinário contínuo
- Atenção a qualquer mudança locomotora ou sinais de dor súbita
Implicações Biológicas e Farmacológicas do Bloqueio do NGF em Cães
Pontos Fortes e Limitações do Estudo
Pontos Fortes:
- Participação de painel independente de especialistas
- Dados consistentes com alertas prévios da FDA (2024) sobre o Librela™
- Utilização de banco de dados robusto (EudraVigilance)
Limitações:
- Estudo observacional, com potencial para viés de notificação
- Baixo número de casos com confirmação diagnóstica por imagem ou histopatologia
- Dados úteis para gerar hipóteses, mas sem comprovação de causalidade definitiva
O uso do bedinvetmab (Librela™) representa um avanço no controle da dor da osteoartrite canina, mas os recentes achados reforçam a necessidade de avaliação criteriosa, informação transparente aos tutores e acompanhamento regular. Cães jovens ou com predisposição ortopédica exigem atenção especial para evitar complicações irreversíveis.
Responsável técnica: Dra. Simone Freitas CRMV-BA 1771