A medicina veterinária de pequenos animais enfrenta diariamente o desafio de interpretar sinais clínicos inespecíficos. Sintomas como tosse, regurgitação e fraqueza muscular são exemplos de manifestações que podem estar presentes em diferentes enfermidades, exigindo do médico veterinário não apenas a anamnese detalhada e o exame clínico minucioso, mas também a orientação clara ao responsável sobre a necessidade de exames complementares.
Nesse caso clínico de um cão Pastor com sinais compatíveis inespecíficos, ressalta a importância do raciocínio clínico e da comunicação efetiva com o responsável pelo animal.

📌 Caso Clínico
Dados do paciente:
- Espécie: Canina
- Raça: Pastor
- Idade: 7 anos
- Peso: 25 kg
- Sexo: Macho
Anamnese: Responsável relatou tosse e regurgitação há 10 dias, com piora nos últimos 3 dias, evoluindo para fraqueza nos membros, hiporexia e intolerância ao exercício. Com o histórico vacinal e vermifugação em dia, sem uso prévio de medicações ou internações anteriores.
Exame clínico:
Durante o exame clínico foram identificados:
- Temperatura 38,5 °C
- Frequência cardíaca 80 bpm
- Frequência respiratória 18 rpm
- Dispneia restritiva
- Crepitações pulmonares bilaterais
- Hiporreflexia generalizada
🔎 Exames Complementares
- Radiografia de tórax e coluna: evidenciou megaesôfago e padrão alveolar pulmonar compatível com broncopneumonia aspirativa.
- Eletromiografia e teste de estimulação nervosa: indicativos de falha de transmissão neuromuscular.
- Dosagem de anticorpos anti-receptor de acetilcolina: resultado positiva, confirmando miastenia gravis adquirida.
- Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda, confirmando processo inflamatório/infeccioso secundário.
Discussão do caso
O caso demonstra a relevância da integração entre exame clínico e exames complementares. Embora os sinais iniciais pudessem sugerir apenas uma afecção respiratória, a realização da radiografia revelou o achado crucial do megaesôfago. A suspeita de miastenia gravis só pôde ser confirmada por meio da eletromiografia e da dosagem de anticorpos.
A associação de broncoaspiração secundária ao megaesôfago ilustra o risco elevado de complicações e a necessidade de tratamento multimodal. Esse quadro reforça a importância de explicar ao responsável que, sem a realização de exames diagnósticos, o manejo seria apenas sintomático, com maiores chances de insucesso.
Papel do Médico Veterinário
O médico veterinário tem um papel essencial em traduzir para o responsável a relevância dos exames complementares. Muitos responsáveis, ao observarem apenas sintomas respiratórios ou gastrointestinais, podem questionar a necessidade de exames neuromusculares ou imunológicos.
Cabe ao profissional demonstrar que:
- Os exames direcionam o tratamento adequado para cada caso.
- Eles permitem identificar complicações precoces, como a broncopneumonia aspirativa.
- Reduzem tentativas terapêuticas ineficazes e aumentam as chances de sucesso clínico.
Essa comunicação transparente não apenas melhora a adesão ao plano diagnóstico, mas também fortalece a confiança na relação responsável-veterinário.
Diagnóstico Assertivo Salva Vidas
O caso deste Pastor evidencia como sinais clínicos iniciais podem mascarar uma doença neuromuscular grave, como a miastenia gravis. O diagnóstico assertivo só foi possível pela realização de exames complementares específicos, que direcionaram a conduta e permitiram instituir um tratamento adequado.
Dica: Sempre explique ao responsável (tutor) que os exames não são apenas “opcionais”, mas sim parte essencial do cuidado veterinário. Essa abordagem salva vidas e valoriza a prática clínica.
👉 E você, como tem explicado para seus clientes a importância dos exames complementares nos atendimentos clínicos? Compartilhe sua experiência nos comentários.
Texto por: Simone Freitas
Responsável técnica: Dra. Simone Freitas CRMV-BA 1771
