A presença feminina na veterinária de campo: do avanço numérico à consolidação técnica


Nos últimos anos, a medicina veterinária brasileira passou por uma mudança estrutural silenciosa: as mulheres deixaram de ser minoria e se tornaram maioria na profissão. De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), cerca de 58,5% dos mais de 200 mil médicos-veterinários registrados no país são mulheres. Esse crescimento não ficou restrito aos centros urbanos ou às áreas clínicas — ele chegou também ao campo.

O trabalho rural ainda é associado a jornadas extensas, deslocamentos constantes e, em muitos casos, atividades com alta demanda física. Ainda assim, um número cada vez maior de médicas-veterinárias constrói carreira exclusivamente na produção animal. Elas estão presentes na tomada de decisão estratégica, na gestão sanitária, na responsabilidade técnica, no planejamento produtivo e, não raro, participam também das etapas operacionais: inseminação, manejo reprodutivo, exames, intervenções e condução de equipes em sistemas intensivos e extensivos.

É importante reconhecer que a presença feminina nesse ambiente ainda esbarra em preconceitos e resistências culturais. Não é raro que a competência técnica de uma mulher seja inicialmente questionada antes que ela possa demonstrá-la. No entanto, a resposta a esse cenário não veio pela confrontação, mas pela excelência técnica e pelo comportamento profissional. Ao impor respeito por meio da entrega, do domínio científico e da conduta ética, as veterinárias modificaram a percepção sobre sua atuação.

Hoje, a comunicação entre mulheres veterinárias, tratadores, produtores e demais profissionais do sexo masculino no campo deixou de ser um campo de tensão e se transformou em um ambiente predominantemente profissional, colaborativo e ancorado na ética do trabalho. A autoridade é reconhecida pelo conhecimento e pelo resultado.


Para alunos e profissionais que observam esse movimento, a mensagem é clara: a presença feminina na veterinária de campo não é tendência, é realidade consolidada. Ela redefine padrões, qualifica a cadeia produtiva e fortalece a percepção de que competência não é determinada por gênero, mas por formação sólida, preparo técnico e conduta profissional.

A transformação no campo não aconteceu porque mais mulheres chegaram, mas porque elas ficaram, performaram e provaram na prática que lugar de mulher veterinária também é no campo.

Texto por: Simone Freitas
Responsável técnica: Dra. Simone Freitas CRMV- BA 1771 


Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de contato